Friday, December 30, 2005

DO OUTRO NATAL


( Pediram-me para repetir, mas agora com uma flor)

Subo as escadas aliviado dum longo dia de trabalho e chamo por ti. Não te vejo, mas adivinho que estás a sorrir. Volto a chamar-te e espreito pela porta entreaberta e vejo-te à procura do meu olhar, com o teu sorriso que ilumina o quarto e a minha vida. Aproximo-me e já não sorris, mas ris sonoramente quase à gargalhada. Teus pés e tuas mãos de criança agitam-se de contentamento e eu fico para ali pasmado de alegria. Foi no tempo de eu sentir o encanto de ser pai.
Hoje foste tu a subir as escadas e a trazeres um sorriso diferente. Ficaste a olhar-me e disparaste atenta à minha reacção: “Vais ser avô!” Não disse nada, mas dentro de mim espraiava-se o teu sorriso, como quando era eu a subir as escadas. E o futuro ficou com um significado diferente.

Monday, December 19, 2005

DO NATAL


Quando a manhã chegava iniciava-se um dos dias mais encantatórios das nossas vidas, que naquele tempo era eterna e duma leveza jamais imaginada. Tinha mais luminosidade do que a do sonho e tudo assumia um matiz alucinatório. Era o tempo do frio, das poças de água congelada pelas noites frias, da humidade pendente das folhas das plantas e arvores, da erva molhada ao longo dos carreiros que percorríamos. Mas até isso impregnava a nossa tarefa de alegria e aventura e emprestava magia ao frio nos pés e às pontas adormecidas dos nossos dedos de crianças. A realidade ficava pequena na exuberância do sonho que vivíamos e o mundo era imenso de mistério e de encantamento. Despegávamos o musgo das paredes com o desvelo das tarefas mais importantes da vida, cuidando de deixar tal e qual como o musgo crescia, com outras folhas que por vezes o enfeitavam. E via no rosto dos meus irmãos a mesmo empenhamento e a mesma felicidade, nesta tarefa de exaltação da vida. Vivíamos o nosso afazer como a coisa mais importante do mundo e o maravilhoso espelhava-se nos nossos olhos. Depois era preciso o azevinho com as suas folhas verdes, do verde autêntico como nenhum outro, do único verde verdadeiro que me ficou nos olhos. E reparaste nas incríveis curvaturas das folhas do azevinho, como se fosse possível algumas mãos alguma vez desenharem aquela leveza e suavidade. Não, nunca dei fé que o azevinho tivesse picos mas extremidades finíssimas, onde as suas curvaturas se fundiam, num encontro simplesmente imaginado. E as suas bolas vermelhas, as que deram origem a todos os vermelhos do mundo, porque todos os outros eram matizes deste, eram feitas de uma matéria inventada de beleza, pelo aveludado da sua transparência e pelo brilho que reflectiam nos nossos olhos.
Depois calcorreávamos triunfantes os carreiros que ziguezagueavam os campos verdes, como se caminhássemos nós próprios sobre o verdadeiro presépio da nossa vida.

Sunday, December 18, 2005

DO RECOMEÇO


Para uma saudação muito especial a todos os que tiveram a gentileza de me visitar durante este ano.

FELIZ NATAL